escritórios não deveriam ter janelas

lascivas

se esgueiram pra dentro do dia
nas mesas
invadem atenção do computador

escritórios não precisam de frestas
pro mundo
espiar o que o sol ilumina
o que a lua vigia

queiram, por favor, encerrar
as janelas dos seus escritórios
haverá luz, não preocupem

tão imoral e vulgar
uma minissaia de vidro
que mostra e esconde o prazer

atenciosamente,

medo

O oposto de mim é o medo
me empodero e sou força
que a todos alcança
e abraça

o oposto de mim é a guerra
pois sou luta

mas se ergue a clava forte
da justiça
e a luta a que não foge
é desvario

o oposto de mim é a rua

estou em casa, oposto, com medo
deposto da rua
pelo ódio, pela força
disposto aos amigos
pelo amor, pela liberdade

vem

vem, vem, a gente sai de fininho
ninguém se dá conta
e a gente se esbalda e se livra
da monotonia

vem, vem, a gente segura a respiração
e fecha os olhos e finge
que está invisível

vem que meu coração te esperaria até
bem depois que o sol se pusesse
mas pro gostoso não há tempo
vem

é simples que nem viver
a gente pega na mão um do outro e anda
sem nada nos planos
sem nada na mente
mestres de nós mesmos
líderes de um bando de um, a dois
a mais de dois
ao mundo inteiro.

sintoma

meu avô criava galinhas
sintomáticas da humanidade
vivam presas uma a outra
fazendo cara de irmandade

mas sabiam, muito embora
que por mais que disfarçassem
se quererem toda hora
o que as fez tão grudadinhas

não foi nada do que dizem,
mas a forma da gaiola