Meu gato quer que você pare

Adotamos um gato lá em casa e a vida passou a ser um curso permanente de cultura sustentável. O gato não fala, mas deixa tudo muito claro e as coisas têm ficado apertadas, porque a contradição já está cheirando mal.

Ontem ele me deu uma bronca séria: miou alto me olhando nos olhos, abrindo bem a boca e mostrando os dentinhos já trocados e com poucos meses de uso.

Primeiro que o Ghi não tá curtindo ração. Ele tem pedido carne e comeu até cenoura outro dia. De boa, sem charme. Mas a grande questão aconteceu no banheiro.

Outro dia esqueci a tampa da privada levantada e a Bela viu que o gato tinha bebido água lá. Normal. Mas desde então ele parece ter parado de beber do pote dele, então talvez ele tenha simplesmente trocado de pote.

Daí que eu fui ao banheiro. Daí que ele viu. Daí que ele ficou muito, mas muito bravo de eu estar fazendo aquilo no pote de água dele.

E eu lembrei das conversas que tenho tido com meus amigos sobre o ser humano ser o único animal que caga na água. E é real isso. Mas é mais trágico ainda.

A visão de mundo que faz com que o homem jogue seus dejetos na água, também faz com que a gente tenha que derrubar árvores, impermeabilizar o solo e queimar combustível fóssil em um lugar para poder chamá-lo de casa. E daí se prender em relações inviáveis e consumir drogas sintéticas prescritas por pessoas que até nem acham que isso é a solução, mas fazem disso seu sustento.

E então a gente decide quem vive e quem morre de acordo com critérios frágeis e não se dá conta de que o ambiente está interagindo com isso de alguma forma. Porque proteger não é isolar — e isso dá um outro texto —, mas é interagir de forma sustentável, perene, durável, natural, honesta, espontânea, livre e todos os outros sinônimos.

Proteger é viver junto, respirar junto, ser-com.

É preciso proteger a natureza.

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